


Há uma hora atrás resolvi dar uma volta fora da Estação Rodoviária Central de Florianónolis, onde desembarquei hoje, às 16:23 horas, vindo de Itajaí pelo Expresso Catarinense. Logo ao sair, a noite despertou-me receio de ser assaltado em meu passeio na região próxima do terminal.
Havia andado alguns metros quando vi um sujeito caminhando em minha direção. Pensei evitá-lo, mas como notei sua presença já proximo de mim, resolvi parar, cruzar os braços e, encará-lo. Veio ao meu encontro, cumprimentou-me e passou a conversar comigo.
Permaneci em silêncio, olhando ele direto nos olhos, enquanto escutava sua conversa. Após alguns minutos parou de falar e perguntou se eu falava português. Fiz um gesto com a cabeça sinalizando um sim. Ele continuou a falar. Desculpou-se pela abordagem. Disse saber que era proibido pela segurança do terminal rodoviário importunar os passageiros pedindo ajuda, mas mesmo assim, como estava com fome e, tinha apenas R$ 1,80 em moedas que me mostrou na palma da sua mão, resolvera arriscar a sorte para arrumar o suficiente para "comer um bom cachorro quente, com duas salsichas" que custava R$ 3,00.
Sentindo a franqueza do homem, descruzei os braços e lhe estendi a mão, apresentando-me: "Aroldo". "- Juarez. Juarez Braz!" Respondeu sorrindo, retribuindo o gesto e acrescentando com transparente honestidade:
"- Obrigado por apertar a minha mão".Estimulei o homem a falar da sua vida. Embora desconfiado da entrevista, passou a responder minhas perguntas. Descobri tratar-se do jovem Juarez Braz Bueno da Silva Júnior, 31 anos, natural de Dourados (MS), nascido em 12 de janeiro de 1980. Filho do policial militar já falecido da PM-MS, o gaúcho de Palmeira das Missões, Juarez Braz Bueno da Silva e da prenda do lar paulistana, Maria de Fátima da Silva.
Muito honesto e espontâneo, disse que não gostava de trabalhar e estudar. Porém admitiu que sua mãe sempre esteve certa ao fazê-lo estudar. Completou o 2º Grau. Veio de sua terra de origem para Florianópolis porque a cidade sempre lhe despertou encanto e simpatia desde pequeno, quando vinha a capital catarinense acompanhando os pais.
No meio da conversa me achou com
cara de artista para em seguida se auto corrigir e dizer que minha
cara era mais de detetive. Tive que rir quando ele falou isso, ocasião em que tirei umas fotos do entrevistado.
O Braz disse gostar de fazer as pessoas felizes. Queria ter tido mais sorte na vida. Ter uma familia. Receber mais carinho. Afirmou que se ganhasse na
Mega Sena, sonhava em construir um canil, para tirar todos os cachorros que vivem na rua, a fim de lhes dar um lar digno.
Emocionei-me com o sonho do morador de rua Juarez Braz que faz da Estação Rodoviária de Florianópolis, a sua casa mais freqüente, ressalvando que "tem que se cuidar dos seguranças do Terminal; dormir com um olho fechado e o outro aberto, para não ser colocado na rua". Andando pela estação flagrei outro cidadão com a vida do Braz, dormindo numa escadaria interna da rodoviária.
Ao dizer que gostava de ler e que o livro que mais havia gostado era
O Segredo, quiz lhe comprar um livro na Estação. Ele, educadamente, recusou dizendo que preferia o dinheiro do livro para comprar um sabonete e um desodorante, porque amanhã tinha uma entrevista num possível emprego como auxilirar de cozinha. Meti a mão no bolso e dei ao Braz R$ 21,00 trocados que tinha na bermuda. Ficou radiante! Saiu feliz dizendo que era mais do que precisava para comprar seu cachorro quente com duas salsichas, uma coca cola, o sabonete e o desodorante.
Apertou minha mão e se despediu, caminhando. Parou mais adiante, olhou para traz e gritou. "Ei! Amigo. Amigo! Muito obrigado"! E, desapareceu na noite.
Aroldo Medina