
Após ser aprovado no vestibular da PUC-RS para o CFO (Curso de Formação de Oficiais) e vencer as demais etapas de seleção da BM, apresentei-me na Academia de Polícia Militar, em 1986. O comandante era o coronel Paulo Eloir Bortoluzzi.
A figura do coronel Bortoluzzi impunha respeito. Era um homem alto, teso e forte. Cabeça sempre erguida, sem vaidade. Olhar firme. Seu caminhar era uma marcha constante, com altruismo e coragem. Voz grave. Postura militar típica. Um comandante autêntico. Nos inspirava confiança e integridade.

Cadete do 1º ano, eu estava de "reforço da estrela". A "estrela" era um posto de serviço de guarda do quartel, em frente ao prédio da antiga Linha de Tiro da Brigada, no terreno da APM, em Porto Alegre. O meio fio arranjado no chão forma uma estrela entre os paralelepípedos.
Passava da meia noite quando vi alguém avançando em minha direção. Mandei um "alto lá, identifique-se"! E antes que eu pedisse a "senha", ouvi a resposta do vulto que se agigantava: "- É o Comandante, cadete".
A voz era inconfundível. Incréduto fui na direção do Comandante e me apresentei da melhor forma que consegui. Fiz ombro armas com meu "FO" (fuzil ordinário) e, com os pulmões cheios de ar, declarei: "- Com licença senhor, aluno oficial PM, Aroldo Medina, cadete do 1º ano do CFO, Reforço da Estrela; serviço sem novidade". O coronel Bortoluzzi, firme como uma rocha, recebeu minha apresentação. Fardado e na posição de sentido, o comandante declarou: "- Apresentado". Depois da formalidade, conversamos um pouco.
Após a conversa, o grande líder se despediu e desapareceu na penumbra da noite. Sua silhueta foi sumindo devagarinho na
Sargento Witt, enquanto eu o seguia com olhos e coração de cadete, orgulhoso da visita do comandante, ao meu posto.
Hoje, nos despedimos do corpo do coronel Paulo Eloir Bortoluzzi, no cemitério São Miguel e Almas, em Porto Alegre. O espírito do grande líder militar partiu para outra dimensão de vida. Deixa um legado de boas obras na Brigada Militar e fora dela. Centenas de pessoas, familiares, amigos e colegas estiveram presentes na despedida do prócer oficial.
O ambiente na despedida era de rara fraternidade, congregando várias gerações de oficiais e praças da Brigada Militar. O espírito de luz e nobreza do coronel Bortoluzzi imantava a todos. Partiu com a certeza do bem realizado e do dever cumprido.
Que Deus e Jesus, governador do Planeta Terra, nossos comandantes espirituais supremos, o acolham em sua grande Corte Celestial.
Um grande abraço a todos, especialmente a família do coronel Bortoluzzi, a quem prestamos solidariedade, caprichada e sincera continência militar.
Major Aroldo Medina
Nota editorial: a primeira foto retrata o lançamento de
Brigada em Revista, em abril de 1989, na Academia de Polícia Militar, em Porto Alegre. A publicação foi alusiva a Turma de Aspirantes 1988 da Brigada Militar. Na foto, da esquerda para direita estão: o tenente Botelho, o coronel Bortoluzzi, o coronel Sidnei Pafiadache e tenente Medina. A segunda foto tirei de dentro de helicóptero do Grupamento Aéreo da BM.