Desabafo. Peço licença para os meus amigos e amigas deste
nobre espaço, para produzir um texto mais longo hoje. Quero contar uma
história. Calculo que deva gerar uma leitura de uns 15 minutos, no máximo.
Quatro dias antes da minha mãe baixar no HPS de Canoas, ela
parou de comer. Isto ocorreu no início de abril deste ano. E, por mais que
insistíssemos com sua alimentação, ela não comia. No quarto dia do seu jejum foi
levada para o pronto socorro e de lá transferida para o exemplar Hospital
Independência de Porto Alegre, onde baixou dia 04 de abril e esta lá até hoje.
São seis meses de internação, em função do seu pulmão, com debilidade crônica
que, não dispensa mais a ajuda regular de aparelhos para assegurar uma
respiração razoável.
Esta viva, graças a Deus e ao extraordinário trabalho dos
médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem do Hospital Independência de
Porto Alegre, administrado pelas irmãs da Rede de Saúde Divina Providência,
irmãs Círia e Cecília. Louvo a Jesus pela graça da minha mãe estar sendo
cuidada por equipe de saúde do SUS, tão zelosa e profissional. Creio que este
padrão de atendimento é único no Brasil.
A maior parte do tempo que minha mãe esta no hospital, ela
viveu na UTI. Foi para o quarto quatro vezes quando eu e meus irmãos nos revezamos,
como acompanhantes da mãe, sem dispensar, de vez em quando, a ajuda de outras
pessoas que nos auxiliaram nesta tarefa de 24 horas. Os períodos em que ela esteve
no quarto, situaram-se ao redor de uma semana. O quadro de saúde piorava e ela
voltava para a UTI.
Tenho colhido, nestes dias difíceis o apoio de todos que tem acompanhado
e ungido minha mãe com muitas orações que só trazem boas energias e nos unem as
cortes celestiais que cuidam do povo cristão governado por nosso Senhor Jesus. E, por falar no Mestre, certamente, Ele convive em plena harmonia no plano superior, com outros grandes profetas
de gigante expressão espiritual, em nosso Mundo.
Desde que a mãe foi para o quarto pela primeira vez e, fomos
informados da possibilidade de sua alta e dos cuidados especiais que deveria
ter em casa, no mesmo dia que recebi esta boa notícia, fui para casa, acessei a
internet e fiz a compra de cama e colchão hospitalar, com os assessórios
básicos de um quarto de hospital. Além desta providência, uma semana após a mãe
sair de casa e ir para o hospital, iniciei uma série de reformas na casa dela,
pensando no seu retorno.
Entre as entradas e saídas da mãe, na UTI do hospital, cada
vez que ela ia para o quarto, a expectativa de levá-la para casa, acelerava os
preparativos para recebê-la no aconchego do seu lar. Mas há providências que
dependem de prazos do poder público, em função das inúmeras demandas populares que
são acolhidas nas centrais de atendimento ao cidadão.
Minha mãe ficou dependente da cadeira de rodas que deve
passar a utilizar; da mangueirinha de oxigênio que entra pela cânula em sua
traqueia aberta; depende da ajuda de terceiros para sua higiene pessoal e, tão
vital como o oxigênio, depende da dieta enteral (alimentação via sonda nasal).
Quando me falaram, já na primeira vez que a mãe ia para casa,
fui pesquisar os custos de suas necessidades especiais. “Cacoete” de quem tem
formação militar: planejar as coisas.
Minha mãe consome, em média, 2 litros diários de uma
alimentação líquida. O hospital lhe dá o Nutrison. Pesquisando na internet,
constatei que esta alimentação custa R$ 110,00 (cento e dez reais) o litro. Portanto,
são R$ 6.600,00 (seis mil e seiscentos reais), por mês, só nesta dieta. Não vou
contabilizar aqui, o custo de outros assessórios que o hospital utiliza no
custeio de cada um de seus pacientes, como por exemplo, o “kit da bomba de
infusão” (mangueirinha de plástico por onde vai a dieta), trocado a cada três
dias, em média, pois, meus amigos e amigas aqui do face teriam taquicardia, com
os valores destes assessórios. Já vão me entender porque escrevo todas estas
circunstancias.
Dia 13 de agosto do corrente ano, abri três processos na
prefeitura de Canoas, para pedir ajuda do poder público, na sustentação da vida
de minha mãe. Pedi socorro ao Estado porque minha mãe é aposentada e recebe um
salário mínimo e meio.
Em um processo solicito a dieta enteral; no outro, um
equipamento de oxigenoterapia, com aparelho de aspiração e no 3º peço curativos
para as escaras (ulceras de pressão) que a mãe desenvolveu em função de estar há
seis meses deitada, com breves períodos onde o extraordinário pessoal do
hospital consegue convencê-la a ficar sentada numa poltrona.
Na última sexta-feira, dia 13 de setembro, o setor competente
da prefeitura fez contato comigo, para me dar retorno do andamento de dois
processos, da alimentação e do aparelho. Digno assinalar que a Prefeitura de
Canoas já disponibilizou para minha mãe, há mais de três anos, um acumulador de
oxigênio que ela tem em casa, sob sua guarda. O processo aberto visa a troca
deste equipamento por outro aparelho que tenha aspirador traqueal, para sugar a
secreção dos seus pulmões. Ela faz isso a cada quatro horas em média, no
hospital.
A Adriana me comunicou, neste final de semana, que o médico responsável
pela mãe, disse para ela que pretende dar-lhe alta, na semana que começa
amanhã. Naturalmente, perguntei a minha irmã como faríamos para receber a mãe
em casa, ainda sem estarmos providos, no mínimo, com a dieta enteral e o
aparelho de oxigênio, com aspirador de secreção, alertando-a que eu já havia comprometido
todo meu salário líquido nos próximos 12 meses, com os investimentos feitos em
função das demandas relacionadas ao caso que relato aqui.
Minha irmã ponderou que o médico ainda disse que o pulmão da mãe
estava em “estado terminal” (para bom entendedor, meia palavra basta) e que ela tinha o direito de vir para casa, sentenciou a Adriana.
Concordei, mas insisti que ainda assim precisávamos da garantia da dieta
enteral e do aparelho de oxigênio, com aspirador, em casa. O diálogo logo virou
em discussão. Desesperados, brigamos.
A Adriana foi para um lado e eu fui para o outro. O
incidente ascendeu em minha cabeça, memórias recentes. Dia destes, eu fui ao hospitaleiro
Lar dos Necessitados, em Novo Hamburgo (RS), para uma consulta de apometria. Ao
ser chamado, na minha vez, entrei na sala onde estavam os médiuns que trabalham
de graça. Sentei e ouvi dizerem que em outra encarnação eu havia sido um juiz
justo e, continuava sendo um homem justo, nesta encarnação. Senti,
instantaneamente, minha responsabilidade espiritual aumentar com esta revelação.
Em seguida, sem eu dizer nada, uma médium falou que minha mãe não tinha
descanso, em função de saber que nosso relacionamento em casa, entre eu, o Adroaldo
e a Adriana estava em desarmonia.
Ainda hoje, recebi a visita de uma querida vizinha que veio
saber como estava a mãe. No meio da conversa relatou que um familiar seu, muito
próximo, havia ficado cego, de repente. Procurou médicos, fez cirurgias e até agora
nada. Teve um descolamento de retina.
Busquei o boletim da Natália neste final de semana. Cinco
notas abaixo da média.
Minha mãe, Nilva de Wallau Medina, 77 anos, deu à luz a três
filhos, Aroldo, Adriana e Adroaldo. Creio que foi sua grande obra de vida. Todos
bem sadios ao nascerem e, concentrou com meu pai, de saudosa memória, Ivo
Medina (1928-1988), em nós, toda expectativa que um pai e uma mãe conscientes depositam
em um filho. Em síntese, ser bom, honesto e útil ao mundo.
Os desafios são inerentes a condição humana, assim como
nossos próprios defeitos e as vicissitudes que todos enfrentamos carregando
fardos, uns mais pesados do que os outros. Tenho feito tudo o que esta ao meu
alcance. Sempre agi para honrar meu pai e minha mãe. E mesmo assim, creio que
não é suficiente. Lamento ser um homem limitado. Há situações que vão bem além
do alcance de nossa boa vontade.
Deus esteja no coração de todos!
Aroldo Medina
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