Perdi o sono nesta madrugada. Creio que é comum perdermos o sono, hoje em dia. Afinal de contas, motivos não faltam para sairmos dos braços de Morfeu. Os perigos nos espreitam por todo lugar. Não temos segurança nem mesmo dentro de nossa caverna de madeira, de tijolos ou de qualquer outro material com a qual tenha sido construída. Nosso telhado nunca esteve tão vulnerável. Depois dos bandidos, temos pedras de granizo que podem arrebentar nosso sossego a qualquer momento.
Mas voltando ao sono perdido. Levantei da cama e fui procurá-lo dentro de Zero Hora. Por falar em hora, o relógio marcava cinco e trinta e sete da madrugada. E, pode ser uma madrugada de qualquer pessoa. Nosso sono vai continuar fugindo da gente, mesmo que estejamos em Marte. Há! Sim. A Zero Hora que peguei? Era deste último domingo, dia 18/10.
Sócrates em Paraisópolis, do professor Eduardo Wolf foi o artigo que capturou minha mente. Bem que meu sono poderia estar na famosa favela de São Paulo. Na verdade, lá era o último lugar onde deveria estar. Mas não perderia nada em dar uma olhadinha. Putz! Fiquei mais acordado ainda, depois de ler que uma comissão de especialistas do Ministério da Educação e Cultura do Brasil esta sepultando, se já não enterrou, o ensino da filosofia nas nossas escolas. Seria odioso pensar nesses especialistas do MEC como alguma espécie de assassinos da mente de nossa juventude, privando-os de conhecer Sócrates, Aristóteles, Pitágoras, etc. E por falar no Pitágoras foi ele que escreveu: “Educai as crianças e não será preciso punir os homens”.
Aí perdi o controle dos meus pensamentos. Minha mente foi parar na frase do Collares falando sobre o preconceito, na página dez: “Sempre convivi com isso (preconceito). Devo ter enfrentado, mas ficava com pena de quem cultivava o preconceito, porque é uma degradação moral e ética da criatura não gostar do outro por causa da cor”. A lembrança destas frases de Alceu de Deus, fez meu pensamento saltar de novo e ir para minha infância. Lembrei da Guiomar. A Guiomar era empregada doméstica da minha mãe, em 1968. Eu tinha 4 anos. Lembro dela como se tivéssemos nos encontrado ontem. Ela era uma negra forte, 35 anos, sempre disposta. Estava sempre lavando nossa roupa suja, passando e limpando a casa. Ouvi a Guiomar dizer mil vezes que eu era o filho branco dela.
Eu amava a Guiomar igual minha mãe. Aí, lendo um jornal percebi que eu via e sentia a Guiomar pelos olhos e o coração da minha mãe que sempre tratou todas as quatro empregadas domésticas que tivemos ao longo de 50 anos, com muita educação, amor e carinho. A segunda empregada, também negra, minha mãe chamava de Comadre e o seu filho Manoel, o sentia como um irmão. A Janaína foi a última empregada que tivemos. Eu ainda contrato ela para uma faxina semanal. Quando a Janaína vem limpar a casa, eu cozinho para ela. Costumamos almoçar juntos.
Meu pensamento salta de novo e vai parar na frase da “V.” da página 24 que disse: “- Eu tirei só um. Até hoje eu me pergunto: Que burrada que eu fiz?” A “V”? ZH Dominical esclarece: “Faxineira, que ficou conhecida pela acusação de ter comido o bombom de um delegado, em Roraima”. O “V” pode ser de Vitória, Veridiana, Vera, Vilma ou talvez de Verdade.
Não. Não. Não. Procurar o sono em Zero Hora ou em qualquer outro jornal, não dá certo não. O sujeito fica cada vez mais aceso, se sentindo mais um pescador de ideias do que um discípulo de Morfeu. Menos mal. Melhor do que perder o sono é ficar sem consciência e, para isso o jornal é um bom remédio. Boa leitura! Sempre que perder o sono.
Aroldo Medina