Últimas 24 horas no RS: O secretário
de segurança pública do Estado do RS, Wantuir Jacini, delegado de polícia,
pediu para sair. O Governo do Estado encarregou o pecuarista José Paulo
Cairoli, vice-governador, de constituir um gabinete de gestão da crise na
segurança. O governador José Sartori viajou para Brasília a fim de pedir
socorro para a Força Nacional. A imprensa noticia que o Governo Federal
autorizou a vinda de 200 PMs da FN para o RS.
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Delegado Wantuir Jacini |
Os 200 homens da Força Nacional constituída por policiais militares, inclusive
da própria BM, devem atuar em Porto Alegre. O Governo do Estado defende o
emprego desses homens, na guarda externa de presídios gaúchos, hoje guarnecidos
pela Brigada Militar. A FN tem cultura organizacional para atuar em presídios
amotinados. Não tenho conhecimento que tenham atuado nos moldes que a BM
trabalha hoje na administração e guarda dos presídios gaúchos, há mais de 20
anos.
A Força Nacional chegará no RS, nas próximas horas, com pompas e honra. Fora da
badalação, se não cuidarmos, ficarão mal alojados em qualquer lugar, sem camas
e banheiros dignos. Não tardará para ficarem em cheque, frente ao primeiro
latrocínio tão bárbaro quanto aos que temos assistido nos últimos dias, depois
da sua chegada.
Enquanto fazemos a festa aos heróis da FN (são heróis mesmo), esquecemos dos
nossos heróis da BM, da PC, do IGP, da SUSEPE e tantos outros que continuarão
aqui depois da partida da FN, enfrentando a bandidagem, em condições de
trabalho precárias e recebendo o salário parcelado.
Eufóricos com a ficção, esquecemos que 3.000 brigadianos se aposentaram em
2015/2016. Sim, TRÊS MIL PMs foram para a reserva, em pouco mais de um ano e
meio, com o ingresso de apenas um punhado de novos policiais, numa corporação
que dispõe de 21.000 (vinte e uma mil) vagas.
E, causa-me indignação intelectual só de pensar que não faltam sujeitos que se
atrevem a culpar a aposentadoria dos policiais pela falta de segurança pública.
Esquecem, os incautos, que em 30 anos de serviço defendendo a Sociedade hoje
refém dos bandidos, sacrificamos a saúde, quando não somos despachados para o
cemitério, durante o serviço. Nos aposentamos doentes, sequelados com graves
problemas cardíacos, circulatórios, psiquiátricos, diabetes, hipertensão, etc.
A lista é longa.
Mas voltando ao foco, enquanto badalamos a chegada de 200 guerreiros, bem
vindos, se o governo estadual não tivesse pisado na bola, acelerando a saída de
muitos policiais gaúchos, com ideias mirabolantes de retirada de incentivo a
permanência de policiais com mais de 30 anos de serviço, revisão de direitos e
de um salário parcelado que só perde para dois Estados brasileiros que pagam
pior a sua polícia, muitos desses três mil brigadianos ainda estariam
trabalhando.
A Sociedade Gaúcha não merece o que esta acontecendo. E, o que é pior, vamos
continuar assistindo os bandidos nos atacarem, matarem inocentes a sangue frio
e, até esquartejarem, durante a permanência temporária da FN em solo gaúcho e,
depois que tiverem partido.
Por fim, alguém pode perguntar então: qual a solução? Política de Estado de
Segurança Pública. Não política de governo. Isso vale para educação e saúde.
PREVENÇÃO. Os bandidos só vão respeitar a sociedade com polícia na rua. Polícia
na rua. Polícia ostensiva e polícia judiciária, com corregedorias fortes, sem
esquecer de valorização e ampliação da polícia técnica, do IGP-RS (Instituto
Geral de Perícias) que sonha com um laboratório tipo CSI há mais de 30 anos.
Também é preciso muitos mais agentes penitenciários. Isso é só o começo da
solução, no médio e longo prazos. Só o começo.
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Brigada Militar: Força e Honra! |
Não existe solução no curto prazo. Quem diz que há, está nos iludindo. "-
É conversa para boi dormir", como diria o Guri de Uruguaiana.
Aroldo Medina
30 anos de serviço policial militar.
Nota editorial, adicionada em 29/08/2016, 08:40 horas: quando fiz a postagem originalmente, sexta-feira, próxima passada, era noticiada a vinda de 200 policiais militares da Força Nacional. Baixaram para 150 e, chegaram ontem no RS, 120 PMs da FN. O efetivo, temporário, ratifico, é insuficiente para atender a enorme demanda por segurança pública no Estado do RS. (A.M.)