terça-feira, 12 de julho de 2011

Leilão da Caixa Econômica Federal.


Meu sonho da casa própria, hoje, foi por água abaixo. Com prestações atrasadas, perdi, em leilão da CAIXA, apartamento financiado onde investi minhas economias.

Eram 14 horas e 15 minutos quando a leiloeira contratada pela CEF abriu o leilão. A sala 401 do Conceição Center Hotel da avenida Salgado Filho, no centro de Porto Alegre, ficou pequena, diante de tanta gente. Apenas o edital nº 14 da CAIXA colocava à venda 30 imóveis, somente um, desocupado.

Logo no primeiro lote, um drama veio a tona. Uma casa do Condomínio Residencial Classic, na rua Gravataí do bairro Vila Imbuhy, do município de Cachoeirinha, passou a ser disputada entre a família que ocupava o imóvel e homens interessados no negócio. Lance inicial: R$ 45.128,84 (quarenta e cinco mil, cento e vinte e oito reais).

Uma senhora deu o primeiro lance. A jovem leiloeira cumpriu a risca o seu papel e provocou a ávida platéia: "- Quem dá mais?" Logo um homem aparentando 25 anos, encostado na parede, cobriu o lance. A senhora de rosto calejado fez nova oferta. E assim seguiu a leiloeira instigando o melhor preço. Em poucos minutos se ouvia na sala um choro convulsivo. Três senhoras e uma menina de uns doze anos choravam e rezavam. Ficou visível que a senhora que fazia os lances era a "dona da casa".

Esqueci o motivo pelo qual eu estava ali: lutar pela manutenção do sonho de minha casa própria. Passei a rezar junto com as senhoras que clamavam por Jesus. Insenvível, o homem persistia em cobrir os lances da família que do outro lado lutava pelo seu teto. Uma destas senhoras foi até o homem, tocou-lhe humildemente o braço e clamou para que parasse. A leiloeira de coração de pedra, extremanente profissional, não hesitou em intimar esta senhora que mandaria tirar ela da sala, se ela continuasse "atrapalhando" os lances do homem. Neste instante, algumas pessoas se retiraram do auditório, em protesto a situação.

Quando o valor chegou em R$ 60 mil, o homem silenciou. A senhora respirou aliviada, por pouco tempo, mas tempo suficiente para a leiloeira ter batido o seu martelo de Thor, em favor da desafortunada. Em vez disso, provocou: "Quem dá mais?"; enquanto um secretário seu chegava perto de uma das senhoras, intimando-a a parar de chorar.



Em menos de um minuto, outro lobo se apresentou ágil e voraz. Abriu sua boca de dentes sedentos e passou a moder a carne que lhe era atirada pelo "quem dá mais". A cena parecia entreter uns, enquanto indignava outros. Os dirigentes da CAIXA presentes, intocáveis. A mulher lutava. O lobo mordia. A mulher chorava. O lobo rosnava.

Até que finalmente, a fera fechou sua borrara nojenta. O tormento da família cessou quando a mulher do martelo o bateu favor das aterrorizadas, dizendo: vendido! Sai da tormenta junto, respirando aliviado.

Voltei ao problema que me levara até aquela sala infernal. Os minutos passaram rápido até o lote 21, "meu apartamento". Fui a frente dos famintos. Pedi licença a elegante leiloeira. Disse que o imóvel que estava indo a leilão naquele momento estava sub judice. E que se alguém ali presente estivesse interessado em comprá-lo, ficasse ciente de que havia uma ação cautelar em andamento na Justiça Federal da 4ª Região, aberto para cancelar aquela venda. A leiloeira consultou o pessoal da CAIXA presente sobre a questão levantada. Uma representante da CEF respondeu ter o aval do Setor Jurídico da CAIXA para vendER do imóvel. Prosseguiu o leilão.

Seguiram lances entre quatro pessoas que passaram a disputar o apartamento. Um provável revendedor de imóveis. Uma senhora com uma criança de colo. Um sujeito de óculos parecido com o Clark Kent. Todos aparentando na faixa de 40 e poucos anos. E a compradora, uma senhora de uns 50 anos, loira de cabelos curtos, usando óculos de grau. Foi vendido por R$ 128.000,00 (cento e vinte e oito mil reais). O lance começou em R$ 79.417,05 (setenta e nove mil, quatrocentos e dezessete reais).

Resignado, deixei o local e fui até o prédio da Justiça Federal, no Parque Harmonia de Porto Alegre. Minha última esperança caiu por terra ao consultar os gentis funcionários que me atenderam. Ao assessar seu sistema eletrônico, li com meus próprios olhos, na grande tela do computador, o resultado do processo 5028829-11.2011.404.7100: CAUTELAR INDEFERIDA.

Fui para casa de minha mãe pensando: na família torturada pelo leilão da CAIXA; na quantidade de pessoas que perderam sua casa própria hoje, devoradas pela regra sumária da retomada do imóvel financiado com alienação fiduciária; na capa de Zero Hora deste dia fatídico, anunciando a CAIXA liberando o maior volume de dinheiro da sua história, para compra de imóveis: 90 bilhões de reais.

Senti na carne que o Contrato Draconiano da CAIXA não bota para perder em nada. Só podem emprestar tanto dinheiro assim.

No caminho, já perto de minha querida mãe, lembrei de um texto de Rudyard Kipling que meu pai de saudosa memória, Ivo Medina (1928-1988), me deu certa ocasião em que desobedeci meus pais. O trecho lembrado dizia: "...Se és capaz de arriscar numa única parada, tudo quanto ganhaste em tua vida e, perder e, ao perder, sem nunca dizer nada, resignado, voltar ao ponto de partida, de forçar coração, nervos, músculos, tudo e, dar neles o que neles ainda existe e, a persistir, exausto, contudo resta a vontade em ti que ainda te ordena, persiste..."

Aroldo Medina

Um comentário:

  1. ola estou nessa situacaohoje, recebi um telegrama dizendo que nao sou mais dona d minha casa! perdi tudo! tinha outra casa nos fundos onde mora meus pai e mais 3 tios idosos quem mal andam, e mais 4 filhos todos d menor, a mais nova tem 1 ano
    fiquei desenpregada
    to na pior

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