quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Vai plantar batatas, Aroldo.


Como sempre faço todas as manhãs depois de acordar, fazer a higiene pessoal e tomar o café, com os cachorros de casa na volta, fui dar bom dia para minha mãe, prestes a completar 80 anos, no próximo dia 30 de novembro.
Amo muito minha mãe. Ela convalesce de um distúrbio pulmonar obstrutivo crônico que tolheu sua capacidade de caminhar e, até mesmo de ficar de pé. Permanece lúcida. Procuro diverti-la com conversas descontraídas.

Tive que rir, ouvindo minha mãe dizer quando não tinha o que fazer, ela ia pescar. Nessa época mamãe contava com mais ou menos oito anos e morava em Santo Cristo (RS), sua terra natal. No fundo do seu quintal tinha um rio, onde pescava lambaris. Agora descobri porque minha filha Natália Medina gosta tanto de pescar.
Fora d’água os peixinhos eram limpos pela minha avó Natália Mantovani de Wallau, salgados, fritos e degustados com um bom copo de água fresca. Mamãe lembra que de vez em quando tinha suco. Era uma delícia, segundo ela, comer lambaris fritos e beber suco.
A pequena Nilva gostava de andar a cavalo, “por tudo que era canto”, segundo a jovem amazonas. Meu avô Carlos Augusto João de Wallau encilhava o equino e, lá ia minha mãe andar pela cidade. Nove anos de idade, passeando a cavalo, no centro de Santo Cristo. Cruzava a praça, ao trote. Era permitido. Em seu passeio observava os poucos carros e as camionetas com carroceria de madeira que circulavam. Achava-os feios. Preferia o seu alazão. A Natália ama andar a cavalo.
Outro passatempo que a divertia muito era andar de balanço. Meu avô fazia balanços para as filhas. “- Certa ocasião eu tinha três, um melhor do que o outro”, garante minha mãe que raramente tinha amigas para brincar, em casa. Sua vida social era mais intensa no colégio, lembrando as freiras como umas “chatas”, porque nada as meninas podiam fazer. Tudo era feio ou proibido.
Na vida de mamãe também não faltavam cachorros. Eram três ou quatro, se a memória não lhe falha. Diz que não tinha preferência por comida. Comia de tudo. Vovó sempre foi uma boa cozinheira. Eu mesmo me tornei freguês assíduo da sua mesa, onde sentava feliz ao lado do meu vô, para almoçarmos ou jantarmos juntos, na década de 80, em Canoas quando meus avós maternos vieram morar ao lado de nossa casa.
Pergunto para minha mãe do que ela tinha medo na sua infância. Ela pensa, pensa, pensa e, não lembra ter medo de nada. Então a questiono do que ela tem medo hoje. Sem titubear, responde convicta que tem medo de ficar doente. Sente não poder levantar e ir fazer as coisas que tem vontade e, o seu olhar se perde no vazio do televisor ligado.
Eu levanto para sair do seu quarto. A mãe pergunta aonde eu vou. Respondo que estou indo escrever a sua história. Ela dá de ombros. Pergunta se eu não tenho coisa mais importante para fazer e, sugere que eu vá pegar um bom livro para ler. Reafirmo que vou escrever a sua história. Ela encerra a conversa dizendo: “- Aroldo vai plantar batatas”.
Nota do relator: na falta de fotos da infância de minha mãe, ilustro a postagem com fotos da Natália.

Aroldo Medina

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