Comecei o dia hoje, às sete da manhã, distribuindo santinhos na porta do Colégio Estadual Júlio de Castilhos, um ícone da história de Porto Alegre e da educação no Estado do RS. Garoava e o frio tilintava nas costelas do gaúcho.
Os estudantes de nível médio foram chegando em grupos. Recebi tantos quanto pude com um entusiasmado bom dia, acompanhado de um sorriso e lhes estendendo a mão direita segurando um panfleto dizendo: "- Nosso candidato a vereador em Porto Alegre".
A expressiva maioria dos estudantes apanhava o santinho e prosseguia na sua jornada em busca do conhecimento. Enchi várias mãos de lotes de pequenos panfletos que se diluiam rapidamente naquele mar de juventude. Calculo que foram quase mil (dois santinhos por pessoa). Sai feliz com a gentileza dos estudantes. Prossegui minha caminhada fazendo mais algumas visitas. Voltei para casa. Almocei e me dirigi ao quartel. A tarde passou rápido. Dei aula de Direitos Humanos a uma das novas turmas de alunos soldados em formação na Brigada Militar.
Início da noite, retornei ao meu lar. Lanchei e me dirigi até a PUC-RS, em Porto Alegre, para distribuir mais santinhos. Cheguei na conceituada universidade, às 20 horas. Posicionei-me junto ao portão de saída, do lado de fora e comecei nova atividade de campanha eleitoral.
Não demorou muito para perceber que eu não era bem vindo ali. O senhor Fonseca, segurança da prócer universidade veio em minha direção e seco, mandou eu me afastar: " - Mais prá lá! Mais pra lá". Enxotado, tomei mais distância, refugiando-me atrás de uma floreira.
A segunda rajada veio de dezenas de estudantes. Cumprimentei todos alunos da mesma maneira que saudei cordialmente os estudantes do Julhinho, porém os estudantes desviavam de mim. Baixavam a cabeça. Olhavam para o lado. Não correspondiam ao cumprimento. Apreçavam ainda mais o passo, como se eu estivesse fedendo ou pestilento.
A rejeição ostensiva de alguns levou-me a reagir desejando então boa sorte com o seu candidato. Inúmeros ficaram ainda mais carrancudos com esta postura e praguejavam respostas inaudíveis. Teimoso prossegui remando contra a maré. Tomei um caldo. Respirava quando alguns estudantes, apanhavam o santinho e sorriam de volta agradecendo. Teve um jovem que até tirou o fone de ouvido para ouvir o que lhe era dito. Lembrei, instantaneamente, do "bom samaritano".
Voltei meio tonto para casa. Meu corpo parecia que tinha levado uma surra. Sentia-me exausto. Estranhei a sensação. Não tinha apanhado. Ou será que tinha?
Só mais tarde, repassando o "filme da PUC", me dei conta da "carga espiritual" que recebi dos estudantes de nível universitário que franziam a testa, torciam a boca, apertavam os lábios, baixavam a cabeça, cruzavam os braços, botavam a mão no bolso, olhavam para o lado, apressavam o passo ou simplesmente me ignoravam na hora em que, depois de cumprimentá-los, pedir licença, anunciava: " - Um candidato para sua avaliação, senhor... senhora ou senhorita". Todos os estudantes com este comportamento, sequer olharam quem era o candidato no santinho.
O caminho de casa foi longo. Inevitável formular a hipótese de que não basta só educação de nível superior para corrigir tudo que achamos errado na política do Brasil. Temos ainda um longo caminho a percorrer até este dia. Creio até que algumas gerações nos separam desta redenção plena com uma democracia madura.
Aroldo Medina
Estimativas: distribuí santinhos no Julhinho e na PUC por cerca de uma hora e trinta minutos, em cada local. Estimo que nos referidos estabelecimentos de ensino abordei, aproximadamente, 500 estudantes. Julhinho: aceitação = 80 %; rejeição 20%. PUC: aceitação: 25%; rejeição: 75%.
Nossa base se fundamenta na educação. A força vem do caráter. Trabalhamos com independência e liberdade. Postamos aqui algumas de nossas idéias, pensamentos e ações, construindo um diário público para que as pessoas nos conheçam. Identifiquem nossos ideais e sintam-se a vontade para caminharmos juntos, na realização de nossos sonhos coletivos. Deus ilumine nosso caminho.
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