segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Miguel Rodrigues Pacheco


Chove torrencialmente em Canoas, nas últimas horas. Estou no abrigo da minha casa. O mau tempo me fez lembrar de Miguel Rodrigues Pacheco, 45 anos, natural de Vacaria, morador de rua.

Conheci ele ontem, no domingo. Ele esta vivendo há cinco meses, embaixo do viaduto do TRENSURB, em frente ao Shopping Canoas.

Ao visitá-lo, ontem, levei duas cadeiras de praia e um cobertor de presente. Recebeu-me com um sorriso. Perguntei se queria duas cadeiras de praia. O Miguel respondeu: "- Eu não vou na praia. Mas aceito as cadeiras". Sorri diante da inusitada resposta.


Conversando com ele fiquei sabendo também que os guardas municipais lhe tratam bem, os seguranças do Shopping costumam lhe dar chocolate e a patrulha da Brigada que passa por ali, seguidamente, lhe dá "batatinhas e refrigerante". Esta última informação me deixou bem feliz, com o espírito humanitário dos brigadianos!

O Miguel foi morar na rua depois que perdeu sua família num acidente de trânsito, em 1991. Sua esposa e o filho pequeno morreram no acidente.

Mora ali, embaixo do viaduto, porque se sente seguro naquele lugar. Tem medo de ser espancado em lugares que para nós poderiam parecer mais seguros. Certa vez, morando num casebre, acordou com o corpo ardendo. Vândalos haviam ateado fogo na moradia. É agradecido à Deus, por ter sobrevivido.

Dorme na madrugada. O seu teto vibra muito durante o dia. O trem passa sobre sua cabeça fazendo um grande barulho. Queixou-se que sua vassoura quebrou. Costuma varrer a rua no seu entorno.

Vendo-me tomar nota do que dizia, falou: "- Estudei até a oitava série. Mas tô longe de escrever com a categoria e rapidez que o senhor vai anotando ai o que eu estou dizendo". Sorri. Está desempregado. Já trabalhou na Tedesco Embalagens, no bairro Rio Branco, em Canoas e, depois na Paviolli.


Gosta de observar os passarinhos voando. "Sinto saudade de quando era mais moço quando vejo um sabiá passar na minha frente, cantando. Nessa hora me dá uma vontade de pegar uma enxada e sair virando a terra, capinando. Preparando o terreno para plantar". Diz, mirando o infinito.

Seu sonho, garante que ainda vai realizar, é ter um pedaço de terra lá para os lados de São Gabriel, (RS) onde tem esperança de plantar e colher.

Aroldo Medina

P.S. Ao voltar do trabalho para casa, hoje, por volta das 19 horas, usei o Trensurb de São Leopoldo até Canoas. O trem fez o percurso num tempo bem maior do que normalmente faz, com seus vagões lotados. As estações estavam apinhadas de gente nervosa. Muitos, incontinentes, bradavam contra as consequências indefectíveis do caudaloso temporal que será manchete nos jornais gaúchos de amanhã.

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