O noticiário de TV e as reportagens de jornais sobre os desastres naturais ocorridos nos últimos dias no Brasil e no próprio RS, levaram-me, ontem, a consultar a página da Defesa Civil Estadual gaúcha. Fiquei muito surpreso e lamentei, profundamente, verificar que retrocedemos num aspecto fundamental da estrutura de organização básica da Defesa Civil do RS: descartamos sua memória.
Em 01 de janeiro de 2003, assumi chefia na Defesa Civil do Estado, a convite de Germano Rigotto. Recebi carta branca do governador para desenvolver o trabalho. Formei uma equipe constituída pelo capitão Ilson Idalécio Marques Krigger, sargento Gilnei Bueno, sargento Marco Ariel Nunes Gonçalves e soldado Alexandre dos Santos Willand, este último, tecnólogo autodidata no processamento de dados e analista de sistemas.
O primeiro passo no Piratini foi fazer uma avaliação dos meios próprios que dispunhamos para trabalhar. Precários. Também constatei que não tínhamos memória virtual dos desastres no RS, nem tão pouco um banco de dados sobre eles. Existe uma prática nefasta na administração pública que ocorre, normalmente, com raríssimas exceções, no momento de transição dos governos: a memória dos computadores é deletada.
Imediatamente, determinei a minha equipe que iniciássemos a construção de um banco de dados sobre desastres no RS, com o desenvolvimento de um banco de dados "on line", disponível para consulta de todos, numa página de Internet. Passo seguinte, reuni com a equipe de governo eletrônico da PROCERGS (Companhia de Processamento de Dados do Estado do RS).
O resultado apareceu seis meses depois, com a ativação de uma página de Internet, armazenada na PROCERGS, onde passamos a lançar os dados e fotos de desastres, a partir dos relatórios (NOPRED e AVADAN)recebidos das prefeituras que decretavam situação de emergência, assim como fizemos um link com a Comunicação Social do Palácio, onde tínhamos uma jornalista designada, Edith Auler e, um fotógrafo, Alfonso Abrahan, para fazer a cobertura exclusiva de matérias relacionadas a Defesa Civil, lançando as notícias diretamente nesta página que mantivemos em contínuo processo de evolução.
Lembro como se fosse hoje, uma discussão que tive com o chefe do setor de informática do Palácio Piratini, Jair Dadaldi, quando ele soube que eu havia armazenado os dados na PROCERGS. Ele me questionou sobre esse procedimento, com censura, defendendo a tese de que os dados que gerávamos eram de governo e, portanto, deveriam ficar armazenados no Palácio. Discordei e disse que os dados de Defesa Civil não eram do Governo, mas sim do Estado e convidei-o para irmos conversar com o governador. Minha tese venceu e os dados permaneceram na PROCERGS, onde não se perdem mais, depois de serem salvos nos seus computadores.
Assim, formamos um importantíssimo banco de dados sobre desastres naturais, com informações relevantes, para a própria compreensão e planejamento de ações preventivas e prestação de socorro, baseadas no registro histórico destas ocorrências. O banco permitia, por exemplo, a consulta, por qualquer pessoa, de estatísticas sobre os diferentes tipos de desastres ocorridos no RS e, com seleção de período. Dispunha de dados sobre prejuízos econômicos e sociais, além de notícias e uma galeria de fotos. A imprensa gaúcha se valia com regularidade do site atualizado diariamente.
A página de Internet que construímos chegou a um nível de desenvolvimento e consistência de dados que chamou atenção de gestores do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Uma equipe de cientistas visitou o Palácio Piratini, em dezembro de 2006, especialmente para conhecer o processo de desenvolvimento do banco de dados em questão, interessados em adotar o modelo, nacionalmente, pois, consideraram, naquela ocasião, nossa página, como a mais organizada e completa do Brasil, no registro de desastres regionais.
Todo esse cuidado, transparência e trabalho de constituição deste banco de dados científico, do interesse de toda sociedade, não está mais disponível para a consulta de qualquer pessoa, na atual página da Defesa Civil do Estado do RS. O fato é lamentável sob todos os aspectos que possamos imaginar.
Basta navegar pela atual página e se verifica que a memória da Defesa Civil do RS foi reiniciada em 01 de janeiro de 2011 e vem até a presente data. No dia de hoje registra 102 notícias. O que aconteceu antes e estava lá, centenas de notícias, fotos e outras informações relevantes, sumiram daquele espaço.
Digno de nota, assinalar que o gestor da Defesa Civil da Casa Militar da governadora Yeda Crusius, manteve inalterado o espaço, ao longo de seus quatro anos de governo, manteve a página atualizada, até mesmo com o mesmo layout, tratando as informações lá lançadas, como dados de Estado e não de Governo.
Creio que o governador Tarso Genro, não tem conhecimento desta iniciativa de integrantes de sua Casa Militar, pois, felizmente o autor da modificação assina sua obra, como se pode ler no final da página da atual da Defesa Civil do RS: "Desenvolvido por ATI/Casa Militar.
Urge, governador Tarso Genro, uma reavaliação deste cenário. O senhor é um homem de idéias e um gestor público de respeito.
Aroldo Medina
Nossa base se fundamenta na educação. A força vem do caráter. Trabalhamos com independência e liberdade. Postamos aqui algumas de nossas idéias, pensamentos e ações, construindo um diário público para que as pessoas nos conheçam. Identifiquem nossos ideais e sintam-se a vontade para caminharmos juntos, na realização de nossos sonhos coletivos. Deus ilumine nosso caminho.
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Caro Medina,
ResponderExcluirO administrador, ao assumir uma função, coloca em prática suas ideias gerenciais, sendo que a mudança de layout é uma das primeiras medidas adotadas, a fim de externar as cores da nova administração. Entretanto, no caso da página da Defesa Civil particularmente, seria fundamental que fossem mantidos os dados históricos lá existentes, a final, sabemos que as catástrofes são cíclicas e os dados dos eventos ocorridos, além da fazer parte da história, também servem para análise e adoção de medidas preventivas.
Maj RR Ilson Krigger