quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Hoje perdi um pouco do juízo


Diz um antigo ditado popular que o siso é o dente do juízo. Deve ser porque nasce tarde, depois dos dezoito. Sendo assim, perdi parte desse "juízo" hoje.

Na correria do dia a dia, consegui chegar no horário marcado no dentista. Minha satisfação por chegar na hora durou pouco. Esqueci o raio X e a cirurgia teve que ser adiada. Frustrado resignei-me em ter que esperar uma nova agenda para daqui há um mês. Não conformado e ainda ansioso por ter que adiar o compromisso com o cirurgião, rezei enquanto voltava para o trabalho na Brigada. Pedi a Deus que o próximo paciente não pudesse comparecer.

Trinta minutos se passam. Estou estacionendo o carro. Meu telefone toca. Atendo. Uma gentil assistente da IBCM (Instituto Beneficente Coronel Massot) diz: "- Seu Medina!" - Sim." " - O senhor pode retornar? O próximo paciente marcado cancelou sua consulta." Minha resposta é um sim com entusiasmo e carregado de fé. Um sorriso povoa meu coração de agradecimento.

Enquanto a assistente do doutor Rodrigo da Rocha me prepara com muito profissionalismo e gentileza, conversamos. O assunto indefectível: segurança pública. Não a censuro por crer como a maioria da população brasileira que bandido bom é bandido morto. Surpreendo-a ao dizer que discordo. Penso que bandido bom é bandido preso. Conto-lhe uma história onde depois de entrar em confronto armado, mais de uma vez, com bandidos que me receberam à bala, cuidei para que não fossem mortos. Não me vejo como um justiceiro. A assistente, educadamente, me interrompe e diz que não sabe se teria toda essa consideração com eles, pelo tamanho da violência que praticam contra pessoas de bem, todos os dias.

Continuo a história e lhe conto que um dia estava trabalhando no controle de um tumulto no Presídio Central de Porto Alegre. Tenente antigo, servia no então Batalhão de Polícia de Choque da BM. Um dos chefes de galeria se dirige a mim e pergunta: "- O senhor é o tenente Medina?". Sim, eu respondo com minha tarjeta de identificação bem visível. "- Já tivemos oportunidade de matá-lo, sabia?" Não! Respondi, com um tom de curiosidade estampado no rosto. "Podíamos mas não fizemos". Deu uma pausa e continuou... "Não matamos porque o senhor é um homem de bem. Nos trata com respeito". Fez nova pausa e acrescentou: "Também porque sabemos que é um policial honesto". Fiquei olhando o homem em silêncio, pensativo. Ele fitando-me nos olhos com firmeza, encerrou a conversa arrematando: "- Nossa política com os corruptos é outra!"

O doutor Rodrigo entrou na sala e começou o seu trabalho. Poucos minutos depois, com muita habilidade, sacou um pedaço do meu "juízo".

Fui para casa de boca fechada, sem poder falar uma só palavra, carregando um siso no bolso da calça. Ganhei meu dente da assistente, enrolado numa gaze que alcançou-o dizendo: "- Dá para fazer um novo Medina", referindo-se a uma outra conversa que tivemos sobre os avanços da medicina nos próximos 100 anos.

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