segunda-feira, 27 de julho de 2009

Uma escola de jornalismo chamada Espadim



No final do ano letivo de 1986, já me considerava aluno do 2º ano do CFO (Curso de Formação de Oficiais) da Brigada Militar. Este curso não existe mais, infelizmente. Antes de terminar o ano houveram eleições acadêmicas. O aluno Barbieri foi eleito presidente da SACFO (Sociedade Acadêmica) do CFO. Entrei em férias, com o convite do presidente eleito para ser o diretor do jornal dos cadetes, na sua gestão. Como de praxe fui me acantonar em São Gabriel, terra do meu pai. Na viagem pela BR 290, em direção a fronteira oeste do RS, meu pensamento estava fixo no jornal O Imparcial, periódico mais antigo da Terra dos Marechais. Malas desfeitas, vestindo roupa de domingo de missa, anunciei minha chegada na redação do jornal gabrielense. Recebido como autoridade pelo gentil e atencioso editor, era notícia na edição seguinte. Cadete da BM visita redação do Imparcial, buscando estágio em suas férias para fazer tablóide na Academia de Polícia Militar.

Assim, em São Gabriel comecei a cultivar vocação jornalística, iniciada como diretor do jornal do Grêmio Estudantil Maria Auxiliadora em 1981, em Canoas, quando fiz um meio ofício, mimeografado, depois de passar pela censura da irmã Claudia, nossa monitora.

O ano letivo na BM reinicia em fevereiro de 1987 e, na primeira quarta-feira vaga, visito a CORAG (Companhia Riograndense de Artes Gráficas), em Porto Alegre, localizada ao lado da APM-RS, para buscar novo estágio na confecção de jornais. Durante o CFO tínhamos a quarta-feira à tarde, livre de aulas quando não ficávamos de serviço na guarda ou detidos por algum deslize do tipo: janela suja ou cama mal arrumada, entre outras faltas do gênero.

Os funcionários da CORAG receberam eu e o Botelho, meu colega de turma, de braços abertos. Permitiram que nós acompanhássemos o processo de confecção dos jornais elaborados pela hospitaleira companhia. A CORAG passou a ser nossa segunda escola. Quando não estávamos na Academia, nas horas de folga, nos metíamos entre os gráficos, a aprender a fazer jornais. Em julho de 1987, lançamos O Espadim. Um tablóide de oito páginas, impresso em papel jornal, nas cores preto e branco, com 2 mil exemplares. Lançamos o jornal na Academia, com direito a notícia nos dois grandes jornais gaúchos, Zero Hora e Correio do Povo. Nos sentimos realizados.

Fazíamos tudo no jornal. Éramos repórteres, fotógrafos, íamos atrás do anunciante, não raras vezes, criávamos o anúncio também, captávamos o recurso, pagávamos a edição e saíamos a rua para distribuir o fruto de tanto trabalho. Às vezes também pagávamos alguns trotes para alunos veteranos que se incomodavam com nossa imprensa acadêmica fazendo algumas críticas, sempre com bom humor e responsabilidade, a cultura organizacional da vida em caserna.

O jornal que sempre teve a aprovação do Comando da Academia e o incentivo dos oficiais do Corpo de Alunos, nunca sofremos censura, serviu para aprimorar nossa capacidade de pensar, escrever e interagir com os acontecimentos mais importantes da BM e onde ela se inseria em nosso universo acadêmico.

Saí da Academia da BM convicto de que minha próxima faculdade seria a de jornalismo.

Na foto, as seis edições que elaboramos ao longo de 18 meses que tiveram seqüência em outras turmas de cadetes que nos sucederam, na nobre missão de editar O Espadim. Aroldo Medina.

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